Seminário Técnico-Acadêmico promovido pela Votorantim Cimentos e USP abordou estudos e pesquisas para o avanço da engenharia de pavimentos no país, com foco em Concretos Autonivelantes, Continuamente Armados e BGTC de Alto Desempenho – BGTCAD.
A Votorantim Cimentos e a USP (Universidade de São Paulo) reuniram profissionais de alto nível técnico em um encontro que promete ser um marco na engenharia de pavimentação em concreto do país.
O seminário “Inovações em concreto para pavimentação”, realizado no dia 08 de agosto, em São Paulo, mobilizou um público muito qualificado, com especialistas do setor que debateram as variáveis desse grande tema como talvez nunca tenha acontecido na comunidade técnica e acadêmica.
“Há muitos anos a gente desenvolve projetos de pesquisa com apoio do Governo e da Votorantim Cimentos. Então, já estava na hora de fazer um evento desse tamanho, pois temos muitos resultados que precisam ser transmitidos para a cadeia produtiva. Aqui nós mostramos o que foi feito com dinheiro público ou privado, o que tem sido publicado – como as normas – e muito mais. Esperamos que esse encontro seja promovido para muitos outros profissionais da comunidade”, ressalta o Engenheiro Civil e Professor José Tadeu Balbo, Titular da EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).
Quem participou do encontro compartilha da opinião, a exemplo do Eng. Assis Villela, Gerente de pavimentação da Concessionária EixoSP – Grupo Pátria.
“Nos sentimos honrados em participar deste evento. Como investimos bastante em obras de duplicação – e uma das alternativas que mais utilizamos é justamente o pavimento de concreto – passa a ser crucial nos inteirarmos das tecnologias mais avançadas para se obter uma solução de melhor desempenho. Afinal, o que usávamos há 10, 15 anos não é mais a mesma coisa hoje”, afirma o profissional.
As palestras
A série de palestras foi realizada em dois turnos e aconteceu no auditório do prédio da EPUSP. Confira o que de melhor aconteceu em cada uma.
– O professor Balbo e a engenheira civil e pesquisadora da EPUSP, Andréia Cargnin, destacaram em suas apresentações duas tecnologias: o concreto autonivelante (ou autoadensável) continuamente armado, “batizado” como CANCAD, e a brita graduada com cimento de alto desempenho, conhecida como BGTCAD.
“Chegamos à conclusão de que o concreto autonivalente – ou autoadensável – continuamente armado é uma solução de alta durabilidade para corredores urbanos de transporte público, aeroportos e grandes autoestradas. Embora seja mais caro, ao longo da vida útil, os custos com manutenção caem mais de 80%”, conta Cargnin.
E sobre a BGTCAD, entre outros aspectos, foi mencionado que existe um encaminhamento para que esse material seja ainda melhor do que a BGTC (brita graduada tradada com cimento), em termos de resistência, desempenho, granulometria, consumo de cimento, entre outros aspectos.
– Lev Khazanovich, engenheiro civil e professor da Universidade de Pittsburgh, em seus discursos abordou, primeiramente, o uso de placas curtas e delgadas para tráfego elevado.
“Esse tipo de pavimento tem um futuro brilhante: é visualmente mais bonito, econômico e sustentável, pois reduz a pegada de carbono. E embora esteja suscetível a algum tipo de deterioração, seu desempenho depois do ‘fracasso’ é ainda muito melhor do que o asfalto. Ele vai continuar performando por muito mais tempo”, pontuou.
Contudo, Khazanovich alertou, que embora o uso desse sistema ofereça uma oportunidade de otimizar os projetos, e tenha muitos potenciais, precisa ser projetado de maneira bastante cautelosa. Para isso, ele citou que existe o software Optipave2 – programa disponível comercialmente e que tem sido utilizado em obras no exterior. O Chile, na América do Sul, é um dos exemplos.
Na sua segunda palestra, ele citou outras ferramentas tecnológicas que estão inseridas no contexto de novas implementações para projetos de pavimento, no que diz respeito a simulações, calibrações, previsão de esforços ou danos por fadigas etc. Alguns dos softwares mencionados foram: Pavement ME, Islab 2000 e Pittrigid.
– Hideo Utita, gerente comercial regional da ADITIBRAS, falou a respeito da tecnologia, aplicação e vantagens dos concretos autoadensáveis. Ele mostrou a evolução do material ao longo das últimas décadas e elencou suas principais vantagens, tais como: alta fluidez (preenche todos os espaços entre as armaduras), resistência, durabilidade, menor compactação com o vibrador, redução da mão de obra, otimização da concretagem e ampla aplicação.
O profissional também chamou a atenção para o uso de aditivos, que garantem a qualidade do concreto autoadensável.
“Na verdade, é o concreto que precisa indicar a necessidade de usar o aditivo a partir de testes, que identifiquem a dosagem mais indicada para cada aplicação. Inclusive, os aditivos evoluíram bastante. Conseguimos melhorar a qualidade da concretagem com esse recurso. É possível manusear o concreto muito melhor hoje do que antigamente. Portanto, os aditivos não são mais uma ‘caixa preta’”, explica.
– Luiz Guilherme Rodrigues de Mello, diretor de planejamento e pesquisa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), aproveitou o encontro para destacar algumas obras feitas pelo Brasil que têm utilizado a tecnologia em pavimento de concreto, como os trechos norte-nordeste da BR-101. No total, mais de 2 mil km de estradas foram pavimentadas pelo DNIT com essa solução.
Também ressaltou que a confiabilidade e a longa vida útil são alguns dos fatores que decidem a especificação do material.
Mesa de debates
Além das palestras, foi realizada uma mesa de debates, mediada pela gerente de novos negócios de infraestrutura da Votorantim Cimentos, Engª. Lidiane Blank. “É muito importante para nós reunir um grupo técnico tão seleto, apaixonado pela engenharia e disposto a promover a engenharia de pavimento no nosso país. Muito se avançou no tema, mas ainda há muito o que evoluir”, destaca.
Participaram: José Tadeu Balbo, engenheiro civil e professor da EPUSP; Robinson Ávila, diretor de engenharia da EixoSP – PATRIA; Luiz Guilherme Mello, diretor de planejamento e pesquisa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT); Santi Ferri, diretor de operações da ARTESP; Danilo Pita, diretor de projetos de engenharia do Grupo EcoRodovias; e Paulo Ricardo, superintendente de pavimentos da CCR – Rodovias.
A discussão girou em torno não apenas da importância dos estudos acadêmicos para o futuro da engenharia de pavimentos, como de questões técnicas e de execução que precisam ser debatidas pelos profissionais da cadeia, além de outras “dores” sobre o momento de contratação.
“O papel formador da academia passou por um gap muito grande. Hoje, enxergamos a necessidade de ter uma formação mais voltada para a execução. Precisa-se fazer ‘mais engenharia nas aulas de engenharia’ e modernizar parâmetros”, pontua Danilo Pitta, do Grupo EcoRodovias.
Já para Paulo Ricardo, além da aproximação com a academia, é necessário que haja uma participação maior de todos os agentes para difundir a engenharia de pavimentação.
“O tráfego pesado é o mais complicado para manutenção. E se o pavimento quebrar? Como fazer o reparo? Como fazer para não falhar? Por isso, é importante procurar alternativas. Precisamos encontrar outras formas de viabilizar o tráfego. Mais do que perguntar para a academia, precisamos fazer um ‘mea-culpa’. Como podemos participar para melhorar isso? Temos que levar a inovação para quem está perto. Sair do escritório e ver o que está acontecendo”, salienta.
Robinson Ávila diz que “a questão econômica é o primeiro fator que dá viabilidade ao uso do pavimento de concreto. Porém, há alguns medos na execução, entre eles é: como chegar no Índice de Regularidade Longitudinal (IRI). Outros receios são as fissurações e a cura. Mas é bom destacar a vida útil e, quem sabe, formas de garantir mais rapidez nos reparos, em menos de 24 horas, por exemplo. Esses seriam pontos interessantes a se apoiar para o futuro”.
Luiz Guilherme, por sua vez, chamou atenção para o processo de contratação de obras públicas: “Isso ainda é um problema…é aquela coisa de contratar pelo menor preço. Precisamos melhorar o processo de contratação e a forma de remuneração do serviço. Só vamos avançar tecnologicamente se tivermos investimento, inclusive do privado”, afirma.
Visita às pistas experimentais – Visão geral do projeto Votorantim-USP
Ao final do seminário, todos os participantes foram convidados para fazer uma visita às pistas experimentais do projeto Votorantim-USP. Foram mostrados os trechos com pavimento de concreto, aplicado em três seções, com placas em espessuras diferentes (15 cm na primeira seção e 20 cm nas demais) e dimensões distintas (1,80 de comprimento e 2,43 m).
Um dos trechos, de 35 metros, é considerado o primeiro do mundo feito em concreto autoadensável. O material foi aplicado sobre uma base de 15 cm de espessura em brita graduada, tratada com cimento de alto desempenho.
Certamente a evolução dessas pesquisas trarão resultados importantes para o avanço da engenharia de pavimentos.