PRC-280 é a primeira rodovia no Brasil a calcular emissões de CO₂ considerando as etapas de construção e operação. Entenda!
A PRC-280 é um dos principais corredores logísticos no sudoeste do Paraná e está promovendo disrupções no setor rodoviário brasileiro. A rodovia – que liga o município de Palmas ao entroncamento com a BR-153 –, vem sendo restaurada com Whitetopping, uma solução de engenharia que prevê a execução de uma camada de concreto diretamente sobre o asfalto. A técnica já é bastante consagrada, mas a novidade, nesse caso, é sua viabilização em uma rodovia de pista simples.
Agora, a mesma PRC-280 trouxe outra inovação para a engenharia brasileira ao servir de base para um estudo inédito de cálculo de emissões de CO₂. O objetivo era verificar o total de emissões poupadas em função da escolha do pavimento rígido em detrimento do pavimento flexível, em um trecho de aproximadamente 50 quilômetros.
O resultado foi apresentado à comunidade técnica pela primeira vez em 2024, no 65º Congresso Brasileiro do Concreto, promovido pelo Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), no Painel da Votorantim Cimentos.
O estudo, inclusive, remonta um trabalho conduzido em 2018 pela Votorantim Cimentos, focado na ecoeficiência dos pavimentos rodoviários a partir de dados reais de um trecho da BR-163, no Mato Grosso.
Acordo de Cooperação e união de esforços
Em 2023, após a assinatura de um Acordo de Cooperação entre a Votorantim Cimentos e o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR), responsável pela execução das obras de Whitetopping na rodovia, criou-se um cenário para ampliar e aprofundar o estudo, com dados auditáveis, submetidos a uma avaliação de terceira parte.
O fato de a PRC-280 ter sido projetada com pavimento flexível – e restaurada com Whitetopping – possibilitou não apenas mensurar as emissões de CO₂ da pista executada com concreto, como também fazer uma comparação com o pavimento flexível nas mesmas condições de contorno.
Também foi possível estabelecer paralelos entre as duas soluções de engenharia – tanto na etapa de implantação, como durante o ciclo de vida de 30 anos. Isso significa que todos os impactos ambientais relacionados à manutenção foram contabilizados.
“A partir deste estudo, o DER do Paraná poderá apurar, por meio de um sistema de gerenciamento do pavimento, se a redução de CO₂ se efetivou, ano a ano”, explica Lidiane Blank, Gerente de Desenvolvimento de Negócios de Infraestrutura na Votorantim Cimentos.
Responsabilidade ambiental e financeira
A produção de um estudo com tamanha robustez exigiu a colaboração de diferentes players, cada um adicionando uma expertise. Ao DER/PR e à Votorantim Cimentos, que tem inventariadas todas as emissões de seus produtos, se juntou o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).
O Instituto tem se dedicado a analisar a composição de custos e a quantificação de emissões, contribuindo para tomadas de decisão que também atendam a parâmetros ambientais. “Ao identificarmos o nível de sustentabilidade de uma obra, estamos contribuindo para a viabilidade econômica desse projeto e para a conquista de incentivos fiscais e financiamentos direcionados”, comenta Sandra Echeverría, superintendente adjunta de Engenharia do FGV IBRE.
Mohamed Kasem, diretor administrativo e financeiro do DER/PR, concorda e conta que o Estado do Paraná está atento às oportunidades de acesso a investimentos vantajosos às obras mais sustentáveis. “Em todo o mundo, os investidores têm privilegiado ativos ambientalmente mais responsáveis. O mercado de green e transition bonds está se expandindo rapidamente, inclusive com contribuição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”, diz Kasem, reforçando que acessar esses recursos é uma questão de cuidado com o meio ambiente e de responsabilidade financeira.
Do berço ao túmulo
O estudo desenvolvido sobre a PRC-280 é pioneiro por sua amplitude e confiabilidade. Ele considera os impactos relacionados aos materiais, desde a extração das matérias-primas, incluindo as emissões na produção e no transporte ao local da obra. Também leva em conta os impactos gerados na execução do projeto decorrentes da operação de equipamentos, como pavimentadoras e escavadeiras.
Entram na contabilidade, ainda, todas as emissões que acontecem no ciclo de vida da rodovia, desde as geradas pelo consumo de combustível da circulação de veículos até as oriundas de intervenções para manutenção. “A abordagem de ciclo de vida foi determinante para se chegar à conclusão de que o Whitetopping é ambientalmente mais interessante em relação ao pavimento flexível a partir do nono ano de implantação da rodovia”, diz Sandra Echeverría.
As rodovias sempre foram vistas como intensas emissoras de gases de efeito estufa. Isso não significa que elas não possam se converter em vias eficientes, seguras e com menor teor de emissões.
E a PRC-280 comprovou isso! O estudo inédito verificou que o total de emissões de CO₂ seria 1,4% superior se a restauração da rodovia tivesse adotado pavimento flexível, ao invés do Whitetopping. Além disso, o consumo energético associado ao asfalto é quatro vezes superior comparado ao concreto.
“O trabalho mostrou que foram poupadas 17 mil toneladas de CO₂ em função da decisão de restaurar a rodovia com pavimento rígido. Ele também detectou uma redução de emissões significativa no tráfego dos veículos, resultado da economia de combustível proporcionada pelo pavimento rígido”, destaca Fernando Furiatti, diretor-presidente do DER/PR.
Segundo o gestor, o mais interessante foi obter esses ganhos utilizando uma solução de engenharia que já havia se viabilizado técnica e financeiramente. “Para um órgão público, conduzir sozinho um trabalho deste porte não é fácil. Felizmente, conseguimos congregar uma série de parcerias em prol desse trabalho, que deixa um legado importante para o Paraná e pode inspirar outros estados a avançar em busca da ecoeficiência”, diz Furiatti.
“Como resultado desse esforço, temos uma estrutura de análise robusta que permite sua replicação – desde que tenhamos informações precisas e auditáveis”, pontua Lidiane Blank, adiantando que já há outros projetos em andamento para aplicação da mesma metodologia de cálculo de emissões em outras regiões do Brasil.
Como descarbonizar as rodovias?
Uma série de ações pode contribuir para a redução de emissões de uma rodovia. A primeira delas é, justamente, o que foi feito pelo DER/PR: inventariar as emissões. Afinal, é difícil reduzir o que não se conhece.
Além disso, a evolução tecnológica pode impactar positivamente o balanço de emissões das infraestruturas de transporte. Por exemplo, na produção dos materiais, que pode emitir mais ou menos carbono dependendo da tecnologia empregada. Na PRC-280, no trecho restaurado mais recentemente, um cimento com menor teor de emissões foi utilizado, produzido a partir de estratégias como a substituição do clínquer por subprodutos de outras indústrias e o uso de fontes renováveis de energia.
Outro campo de melhoria são os equipamentos utilizados para execução e manutenção das rodovias, que podem apresentar diferentes níveis de eficiência e usar combustíveis mais ou menos limpos.
Prolongar a durabilidade das rodovias é outra ação intrinsecamente sustentável, assim como a adoção de tecnologias que demandem menos intervenções para manutenção. Nesse quesito, o pavimento rígido se destaca por ser projetado visando uma vida útil de 30 anos e demandar poucos reparos, em comparação ao pavimento flexível.
FERNANDO FURIATTI. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no ano de 1995. Analista em Infraestrutura de Transportes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com especialidade em Gestão Ambiental Rodoviária. Chefe da Unidade Local do DNIT por oito anos e Assessor do Ministro dos Transportes (Ministério de Infraestrutura), em Brasília. Nomeado pelo governador Ratinho Júnior para ocupar o cargo de Diretor Geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) até março de 2022. De abril de 2022 a abril de 2023, ocupou o posto de Secretário de Infraestrutura e Logística do Estado do Paraná. Atualmente, é Presidente do DER/PR.
LIDIANE BLANK. Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Ouro Preto – MG, MBA em Gestão Estratégica em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas e MBA Executivo pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER). Iniciou sua trajetória na Votorantim Cimentos em 2000 e atuou em diversas áreas, como Inteligência de Mercado, Planejamento e Vendas Técnicas Centro-Norte. Atualmente, é Gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios de Infraestrutura e atua tecnicamente junto a empresas, investidores e órgãos governamentais na área de Infraestrutura, estabelecendo parcerias e desenvolvendo estudos em projetos com o intuito de contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura no Brasil.
MOHAMED KASEM. Diretor Administrativo-Financeiro do DER/PR, formado em Engenharia Civil pela University Of Aleppo (2012), com pós-graduação em Gerenciamento de Obras de Infraestrutura pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Possui sólida experiência em Gestão de Obras e Programas de Financiamentos em empresas nacionais, multinacionais e Concessões, acumulando passagens pelo setor público e privado e tendo atuado na coordenação da gerenciadora do programa BID no Estado do Paraná.
SANDRA PATRICIA ECHEVERRÍA FERNANDEZ. Engenheira Civil com formação técnico-científica pela Universidade Nacional da Colômbia e Mestre em Geotecnia pela Universidade de Brasília, com experiência em projetos e orçamentos rodoviários e de obras de artes especiais por mais de 17 anos. Professora de cursos de Pós-graduação em Engenharia Rodoviária e Superintendente Adjunta de Engenharia na FGV.