O painel “Infraestrutura Rodoviária: Avanço da Engenharia de Pavimentos no Brasil”, moderado por Lidiane Blank, abordou tendências, inovações e cases e reuniu mais de 500 pessoas. Confira o que foi discutido!
Durante muito tempo, a única alternativa técnica considerada para a construção e revitalização de rodovias no Brasil foi o pavimento flexível de base asfáltica. Mas, gradativamente, por motivos técnicos e financeiros, o pavimento rígido de concreto vem se consolidando como uma solução de engenharia não apenas viável, como vantajosa.
Um indicador desse movimento foi o grande interesse por essa tecnologia construtiva registrado na mais recente edição da Paving Expo, o principal evento de infraestrutura e pavimentação da América Latina. Com um público de quase 24 mil visitantes, a feira foi realizada em São Paulo, no final de outubro, com debates técnicos de alto nível e destaque para o painel Infraestrutura Rodoviária: Avanço da Engenharia de Pavimentos no Brasil.
Moderado por Lidiane Blank, Gerente de Desenvolvimento de Negócios de Infraestrutura na Votorantim Cimentos, o fórum abordou a evolução da infraestrutura rodoviária brasileira e suas principais tendências e inovações, além de apresentar cases rodoviários de excelência. O painel foi uma das atrações mais procuradas da Paving Expo, reunindo uma audiência qualificada de mais de 500 pessoas.
Pavimentação de concreto avança nas rodovias nacionais
A programação do painel foi organizada em quatro blocos. O primeiro deles reuniu lideranças de agências e órgãos nacionais, como Luciano Lourenço, diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Luiz Guilherme Rodrigues de Mello, diretor de Planejamento e Pesquisa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e Santi Ferri, diretor de Operações da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
Já há algum tempo, os pavimentos rígidos são uma solução indicada para rodovias de tráfego intenso e carga pesada, em função de sua alta durabilidade e resistência. Mas, a partir de 2016, a conjuntura econômica, em especial o aumento do preço do cimento asfáltico de petróleo (CAP), ampliou as possibilidades de aproveitamento dessa tecnologia. Se antes o pavimento rígido só se viabilizava financeiramente ao longo da vida útil da rodovia, agora ele já se viabiliza nos primeiros anos de operação ou mesmo durante sua construção.
Tal mudança fez com que a adoção da tecnologia desse um salto nas rodovias brasileiras. Até 2019, apenas 1,7% da malha rodoviária federal utilizava pavimento rígido. Em 2024, considerando os contratos em execução e os que estão prontos para licitar, o pavimento de concreto já representa 4,5% da malha, informou Luiz Guilherme Rodrigues de Mello. Em sua fala durante a Paving Expo, o diretor do DNIT comentou que, muito em breve, deve ser atingida a marca de 10% de pavimentos rígidos em rodovias federais.
“Essa maior participação se explica por diversas vantagens técnicas proporcionadas pelos pavimentos de concreto, com bons executores que têm se estruturado com equipamentos automatizados, além de se aprimorarem tecnicamente para responder à demanda do mercado e, principalmente, entregar rodovias com qualidade de performance superior”, explicou Lidiane Blank.
Alavancas de valor
O painel também dedicou um bloco ao gerenciamento e monitoramento da performance dos pavimentos. Durante as explanações dos palestrantes, ficou claro o quanto esses trabalhos impactam a vida útil das rodovias e podem beneficiar o fluxo de caixa de desembolsos com intervenções. Atualmente, os pavimentos rígidos são projetados visando uma vida útil de 30 anos. Discorreram sobre o tema Taís Sachet, gerente de Relações Institucionais da Arteris, e Paulo Ricardo Vicente, consultor em gestão rodoviária.
O debate também contou com a participação de Robinson Ávila, diretor de engenharia da Eixo SP, concessionária que administra mais de 1,2 mil quilômetros de malha composta por 12 rodovias paulistas. Ávila compartilhou com a plateia algumas inovações introduzidas pela concessionária, como a aplicação de pavimento de concreto continuamente armado na área de balanças para pesagem em movimento.
Já o terceiro bloco do painel jogou luz sobre novas tecnologias, incluindo pavimentadoras e máquinas para texturização de pista, citadas por Guilherme Rodrigues, diretor comercial da Wirtgen. Entre as inovações apresentadas, um dos destaques foi o equipamento para monitoramento de pavimento. Trafegando na velocidade da via, ele é capaz de medir e analisar, placa por placa, o estado do pavimento, aferindo condições de deformabilidade e deflexão.
Com essa tecnologia, o serviço, que levava 45 dias para ser realizado manualmente, passou a ser feito em três horas, com precisão e segurança muito maiores, como revelou André Vale, diretor na Road Runner Engenharia.
Rodovias mais sustentáveis
O painel foi concluído com um debate sobre as rodovias do futuro. Tatiana Assali, sócia e diretora de Programas em Finanças Sustentáveis da ERM, apresentou a primeira taxonomia de rodovias vigente no país. Trata-se de um documento que propõe critérios voluntários para avaliação e categorização da infraestrutura rodoviária. O objetivo é incentivar a transição para rodovias mais sustentáveis, priorizando menores emissões de dióxido de carbono (CO₂).
A responsabilidade ambiental e social também esteve presente nas falas de Janice Kazmierczak Soares e Mohamed Kasem, respectivamente diretora técnica e diretor financeiro e administrativo do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR). Eles apresentaram o case da PRC-280, um dos principais corredores logísticos no sudoeste do Paraná. Mesmo em pista simples, a rodovia já teve dois trechos revitalizados com a técnica Whitetopping.
A obra é um exemplo real de como questões de projeto, execução e gerenciamento de pavimentos avançaram no país. “Há três anos, a comunidade técnica indagava se seria possível utilizar o pavimento rígido em uma implantação de rodovia em pista dupla. A PRC-280 nos mostrou que essa solução se viabiliza, não somente em pistas novas, mas também na restauração de pavimentos em rodovias em pista simples de tráfego intenso e carga pesada”, conta Lidiane Blank.
O estado do Paraná começou a adotar a pavimentação rígida em suas rodovias há cerca de seis anos, quando chegou a somar 60 quilômetros executados com essa alternativa técnica. Em 2024, o estado se aproxima dos 530 quilômetros de pavimento de concreto.
Tal mudança acontece devido a benefícios financeiros, técnicos e ambientais associados a essa solução de pavimentação. Entre elas, a redução de emissões de CO₂ decorrentes da maior durabilidade e da menor necessidade de intervenções na rodovia, da economia de combustível dos veículos que transitam pelas vias e do desenvolvimento de cimentos produzidos de forma mais sustentável.
Mohamed Kasem, do DER/PR, lembrou que incorporar melhores práticas de responsabilidade ambiental e social aos projetos de rodovias vem se tornando condição para a captura de financiamentos mais vantajosos junto a bancos de fomento. Por isso, o DER/PR se engajou no desenvolvimento de um estudo pioneiro para cálculo de emissões de CO₂ da PRC-280, a partir de um acordo de cooperação com a Votorantim Cimentos.
“O objetivo foi medir, de forma transparente e com metodologia confiável, desenvolvida pelo FGV-IBRE, o total de emissões economizadas em função da opção pelo pavimento rígido, em detrimento do pavimento flexível”, revelou o executivo.